“Qual é a sua missão?”.

Em um primeiro instante, a pergunta parece simples. À medida que os segun-dos passam, você, calado, tateia mentalmente por uma resposta, que não vem.

“Qual é o seu propósito? Por que está aqui? ”.

De novo, você balbucia palavras, sem conseguir responder objetivamente à pergunta. Parecia simples, mas só parecia. Você traça uma nova estratégia e faz novas conexões neurais, enquanto o cérebro fun- ciona à toque de caixa para tentar achar uma resposta que convença o interlocutor.

‘Nunca ninguém me per-guntou isso antes’, você pensa. Pois é, ninguém nunca te perguntou, é algo novo, tem que pensar. Exige reflexão. Parece besteira, mas funciona. E como tem funcionado… Carregada deste verniz filosófico, a reflexão no ambiente de trabalho é fundamental para que um profissional saiba para onde ir e como melhorar. “Esse

tipo de pergunta é muito interessante. Missão é o significado da vida, da contribuição de alguém para com o outro. A pessoa tem de saber aonde pretende chegar”, observa Roseli Freitas, coach certificada pela Sociedade Brasileira de Coaching e que há cerca de oito anos realiza um trabalho de coaching junto à Toledo do Brasil. Nele, a filosofia se faz presente o tempo todo, funcionando no coração do ambiente corporativo.

Coaching, afinal, significa o quê? Trata-se, na definição de Roseli, de “um processo sustentado por metodologias e ferramentas validadas que busca elevar a performance de um indivíduo dentro de uma organização ou em sua vida pessoal”. Na prática, o processo de coaching é composto por sessões individuais, semanais, com média de 50 minutos cada, ou workshops para grupos. Neste processo, o profissional se autoavalia e recebe avaliações de pares, liderados ou líder, aprende a ter autoconhecimento, aperfeiçoa sua inteligência emocional, eleva a sua performance e melhora substancialmente seu relacionamento com os colegas de trabalho.

E não é apenas a reflexão filosófica que ajuda um profissional a crescer. Segundo Roseli, a neurociência (“para trabalhar o cérebro e ajudar a pessoa a ter prazer com um hábito bom”) e a psicologia positiva (“para buscar as forças pessoais e talentos que ajudam o indivíduo a ter sucesso”) também compõem o eixo fundamental sobre o qual o coaching se sustenta.

“O processo de coaching nos tira de uma caixinha. Quando estou num problema, eu faço parte dele e não consigo vê-lo. Mas aí eu olho a situação de fora, com outra lente e entendo o processo, voltando para a situação e agindo diferente”, exemplifica Roseli.

Para o gerente da Engenharia de Desenvolvimento, Wagner Barone Perini, o trabalho iniciado por Roseli ajuda, essencialmente, o profissional a melhorar a capacidade de planejar, organizar, criar estratégias, delegar e dar feedbacks. “Delegar parece simples, mas não é. Tem que haver acompanhamento, tem que saber ouvir. Senão, a gente diz, é ‘de largar’”, brinca o engenheiro.

Perini foi mais um dos participantes a passar pelo processo de coaching na empresa, e é um dos maiores entusiastas do trabalho. “As pessoas ficam mais colaborativas. E quem não participa, quer participar.

Formou-se uma massa tão grande que vai contaminando os demais, conta o engenheiro, há 33 anos trabalhando na Toledo.

O supervisor de Assistência Técnica Marcos Aloisio Martins Silva também conta ter aproveitado do processo trazido à Toledo por Roseli Freitas. “Ajudou a humanizar as relações. Comecei a me colocar nolugar das pessoas”, conta Marcos.

Em um primeiro momento, todo esse trabalho pode ser confundido com a terapia convencional. Mas Roseli alerta: coaching e terapia são coisas bem diferentes. “A terapia leva a pessoa a entender por que ela desenvolveu alguns mecanismos e processos, sua história de vida. Já o processo de coaching não, pois ele tem como proposta apoiar alguém para que atinja o seu objetivo”, explica.

A eficácia do coaching é refletida também em dados estatísticos. De acordo com uma pesquisa feita pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas com executivos que passaram pelo processo, 100% deles disseram ter conseguido aperfeiçoar a capacidade de ouvir, 80% aprenderam a aceitar melhor as mudanças e 70% evoluíram a capacidade de se relacionar.

O começo de tudo

Um levantamento do jornal Folha de S.Paulo mostra que, entre os anos de 2005 e 2011, o número de profissionais de coaching no Brasil cresceu 207%. Foi justamente nesse período de efervescência, com a prática em alta, que a Toledo abraçou a ideia e a aplicou na matriz.

Alguns anos depois, em 2011, um novo passo foi dado, com o primeiro projeto de coaching individual, objetivando cada profissional. “O RH desejava desenvolver as competências de gerentes e de outros profissionais que não ocupavam cargos de liderança formais”, conta Roseli Freitas. “Quando você fala em liderança, cada profissional tem as suas necessidades.”

Um dos responsáveis em ampliar o coaching na Toledo, Nedilson Oliveira também passou pelo processo. O gerente de Recursos Humanos afirma que o primeiro baque foi receber as avaliações de seus liderados. A avaliação, que é confidencial, é fundamental para que o indivíduo reconheça seus potenciais de melhoria e saiba como aperfeiçoá-los.

“Na hora você sente aquela fúria momentânea. Mas depois você entende que é parte do processo, e é preciso melhorar”, reconhece Nedilson.

A situação de Marcos Aloisio na Assistência Técnica não difere muito: “Receber a avaliação foi um choque. No meu processo houve vários pontos que precisei corrigir. ” O supervisor conta que precisou

aprender a ouvir melhor seus liderados. “Lembro de um feedback negativo que recebi dizendo que eu não dava atenção às pessoas. Hoje, eu, na medida do possível, tento parar, olhar para a pessoa e ouvir. Foi uma transformação importante”, explica o profissional, que atua na Toledo há 18 anos e conheceu o projeto a partir do gerente da Assistência Técnica Luiz Morato, um dos grandes apoiadores do coaching na empresa.

A importância das avaliações em um processo de coaching pode ser notada também a partir do caso de Reinaldo Tadeu. O encarregado da Montagem Eletrônica não teve uma pontuação tão boa quando avaliado por seus liderados. Motivo para aflição e desespero? De jeito algum. “Muita coisa fomos consertando, montamos processo de melhorias junto ao pessoal, perguntamos o que eles precisavam.

Depois de oito meses, veio nova avaliação e obtive 80% a mais de satisfação junto aos liderados”, conta ele.

Trabalhando há 25 anos na companhia, Reinaldo afirma que, antes de passar pelo processo, era uma pessoa extremamente negativa. “O coaching me resgatou, me trouxe felicidade para encarar o dia a dia e me ensinou a trabalhar com gestão de pessoas”, afirma o encarregado, que estendeu a lista de boas práticas também à sua vida pessoal. “Depois que passei por isso, eu sou uma pessoa que lê mais. Li seis livros nos últimos três meses e sei que foi o coaching que desencadeou em mim esse apetite.”

Vai um cafezinho aí?

E mbora seja certificada pela Sociedade Brasileira de Coaching e desponte como uma das grandes profissionais da área no país, Roseli Freitas é uma pessoa só, não duas. Para multiplicar as boas ações oriundas da prática do coaching, ela contou com ideias espontâneas de colaboradores como, por exemplo, a sugestão de Wagner Barone Perini, um dos mais experientes da casa.

O gerente de Engenharia de Desenvolvimento criou o que chama de “Café com Perini”, um encontro que ocorre a cada quatro meses e que, sem a formalidade de uma reunião, agrupa os colaboradores de cada área dentro da Engenharia para que interajam e se relacionem. “Abre-se um canal de comunicação. Eu falo o que está acontecendo na empresa, na Engenharia, os principais projetos, e também ouço o feedback, os problemas do dia a dia deles, as sugestões”, descreve Perini, que, não satisfeito em somente criar a ideia, agora já colhe subprodutos dessa ação. “Um grupo que se criou no ‘Café com Perini’ sugeriu a criação de uma espécie de “registro de ideias”.

Agora montei um grupo que está debatendo como fazer isso, como operacionalizar, como fazer funcionar. Tudo a partir desta prática”, afirma, satisfeito. A melhoria no relacionamento em um ambiente de trabalho pode representar um ganho produtivo para a empresa? Difícil provar por A mais B, mas Perini não tem dúvidas. “As empresas multinacionais estão se instalando no Brasil e a competição será bem maior que a do passado. Tudo dependerá de trabalharmos cada vez mais em equipe”, aposta. Roseli Freitas reforça: “Quanto mais nós trabalharmos esse processo de interação entre as pessoas dentro da organização, mais nós estaremos contribuindo para o crescimento humano”. Para ela, “à medida em que temos pessoas melhores, mais fortes e seguras, a empresa melhora como um todo.” E isso, a Toledo já vem, seguramente, fazendo.